De Tuca Munhoz - Consultor especializado em acessibilidade, ativista pelos direitos das pessoas com deficiência de São Paulo.

Muito honrado em receber o convite para escrever este pequeno texto sobre a importância da acessibilidade nas calçadas, tema, muito falado, muito debatido, mas, infelizmente, com baixíssima resolutividade.

Quero destacar aqui dois temas que para mim são muito importantes quando sediscute a acessibilidade, e/ou, caminhabilidade, nas calçadas das cidades: umadas questões de caráter prático e cotidiano, outra de caráter teórico e político.

O tema da acessibilidade que eu chamo de teórico/político é sobre a indissociabilidade entre a Acessibilidade e a Democracia. Para todas as pessoas, mas particularmente para nós pessoas com deficiência, a acessibilidade é condição indispensável e fundamental para a participação cidadã, para tudo o que envolve a vida em sociedade, e para tudo o que se refere ao desenvolvimento pessoal e, portanto, de nossa contribuição, enquanto cidadãos e cidadãs, para o bem comum.

Sem acessibilidade, nós, pessoas com deficiência, não temos como participar, e contribuir, com o bem comum.

No meu entendimento, essa condição é absolutamente próxima, mesmo irmanada, com a importância da Democracia na vida social. É com o estabelecimento de todas as condições e princípios democráticos que todas as pessoas podem participar e contribuir para o bem comum.

Sem Democracia essa possibilidade não existe. Sem acessibilidade essa possibilidade, para uma parcela significativa da população, também não existe.

Por isso, entendo, trabalhar para uma sociedade com acessibilidade é também trabalhar para uma sociedade democrática. Portanto, trabalhar por uma sociedade democrática implica, necessariamente, trabalhar por uma sociedade com acessibilidade.

Nossa atuação, enquanto pessoas com deficiência que lutam em trabalham pela acessibilidade, deve ter esse olhar para as duas faces dessa mesma moeda.

Por outro lado, temos as questões práticas, cotidianas, da acessibilidade e da mobilidade.

E um tema que considero de fundamental importância é o que chamo de Cadeia de Mobilidade, que é a mobilidade formada por elos de acessibilidade, com um encadeamento que forma essa cadeia.

Quero dizer, que a mobilidade, para todas as pessoas, é formada por elos/trajetos. Por exemplo: de casa para o ponto de ônibus, a acessibilidade ao veículo, a utilização do veículo, incluindo o atendimento, a segurança e a comunicação/informação, o ponto de chegada, e o trajeto ao local de destino.

Se um desses elos estiver rompido, é muito provável que a viagem de uma pessoa com deficiência fique prejudicada ou mesmo impossível.

E me permito apresentar esta foto como um exemplo bem concreto de uma situação que enfrentei recentemente:

A photo of a sidewalk with a a tree planted in a larger than necessary bed, in the middle of this sidewalk

Uma calçada com um padrão de piso de ótima qualidade, porém com uma árvore plantada em um canteiro maior do que o necessário, no centro dessa calçada, juntando com a presença de um banco de madeira e um pequeno poste, impedindo completamente a passagem de um cadeirante e tornando o trajeto desconfortável para outras pessoas.

Ou seja, um elo da cadeia de mobilidade foi rompido. Era um trajeto que eu pessoalmente estava fazendo, e tive que dar uma volta enorme e andar por um trecho de rua, me expondo ao risco, para chegar ao meu destino.

Entendo que a acessibilidade deva ser pensada a partir do conceito do que chamo de Mobilidade Universal, e as calçadas são, certamente, o coração dessa cadeia de mobilidade.